MÔNICA SAMPAIO DE MELO - Radialista/Locutora - Escritora - Missionária
quarta-feira, 12 de agosto de 2009
A indenização aos exilados políticos e as vítimas da escravidão
Como disse um amigo meu esses dias: “o vento que venta aqui venta lá”.
Por que dois pesos e duas medidas?
Por que houve - e há - todo esse mover para indenizar as vítimas da perseguição política da ditadura brasileira, e nem uma palha foi tirada do lugar para indenizar os descendentes das vítimas da ESCRAVIDÃO NEGRA no país?
Será, talvez, porque no primeiro caso, legislam em causa própria?
Por favor, não estou desmerecendo a decisão da justiça em indenizar àqueles que, por terem lutado para que a liberdade e a democracia prevalecessem em nosso país, foram perseguidos, cassados e torturados. Mas, e quanto àqueles que deram seu suor, sua dignidade, suas famílias e sua vida para alimentar os nossos antepassados, com seu trabalho amoral nos campos do nosso país? E quanto àqueles que foram arrancados do seio de suas famílias por nossos antepassados, para os servirem de forma tão vil e cruel? Não há indenização para seus descendentes por tão terrível sofrimento?
Não.
Sabe por que?
Porque todos os documentos comprobatórios da escravidão no nosso país foram DESTRUÍDOS por sugestão do então ministro, Sr. Ruy Barbosa.
E a sua intenção publicamente, era digna: apagar da história essa mancha abominável da escravização de um ser humano por outro ser humano.
Mas a verdadeira intenção era escusa: DESTRUIR AS PROVAS DESSE CRIME, para que, no futuro, os afro-descendentes não viessem impetrar ações indenizatórias. Pois este futuro estava com os dias contados: 1989 – exatamente cem anos depois da assinatura da Abolição da Escravatura, que diga-se de passagem, foi uma grande farsa! A princesa Isabel não foi boazinha, humanitária, ou coisa que o valha; estava sim, sendo pressionada pelos abolicionistas, num autêntico “ou dá ou desce”. E para evitar o inevitável movimento ladeira abaixo tipo “chute no traseiro” ou “house fer botten” (não sei como se grafa, mas significa GET OUT; FORA DAQUI!), deu aquele sorrizinho amarelo, aceitou a carapuça de boazinha e concedeu a liberdade aos negros escravos.
Ufá! No filme Ghost há uma cena em que a personagem interpretada pela atriz Whoopy Goldberg, uma trambiqueira que tem um centro espírita, começa a ser perseguida pelo “espírito” do herói morto, para ajudá-lo a prender o seu assassino e o mandante do crime, que descobriu ser seu melhor amigo e colega de trabalho. Então, esse “espírito”, dando um golpe no golpista, transferiu para uma conta bancária toda a fortuna do golpe que estava para ser concluído e a fez ir sacar no banco. Na saída, de posse do cheque polpudaço, mas sujo, o “espírito” a fez doar a duas freiras que estavam com uma banquinha na rua, angariando ofertas para o seu convento. Quando a personagem da Whoopy entrega o cheque na mão da freira, ela demora a solta-lo, arrependida de estar abrindo mão daquela fortuna.
Bem, é isto.
Que os exilados políticos tenham direito à indenização não há dúvida . (Será que todos eles têm mesmo direito? Não daria para fazer uma revisãozinha nos casos? Talvez alguns tenham recebido pelo efeito “dominó” ... vai saber?)
Se é para indenizar alguém, então, vamos indenizar os descendentes dos escravos também.
Toda vítima de abuso tem direito a ser ressarcida.
Os negros, afro-descendentes, também.
Ou vamos rever essas indenizações “dominó” e, inclusive aquelas recebidas por criminosos– pois os fins não justificam os meios; a justiça não precisa das armas da impiedade -, que estavam a serviço da democracia, ou vamos, de uma vez por todas, limpar essa “sujeira” do ilustre Ruy Barbosa. Desculpem-me os seus descendentes; não é nada pessoal. Se eu estiver errada, por favor, me corrijam. Com fatos.
monica.sampaio1@gmail.com
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4 comentários:
O Brasil continua reservando aos negros e seus descendentes as migalhas que caem da mesa dos que podem tudo, mantendo a exclusão de uma maioria, que mais uma vez é vista como sem importância por parte dos que detêm meios de reparar, pelo menos, alguns estragos cometidos contra tantos.
Só duas coisinhas:
"Por favor, não estou desmerecendo a decisão da justiça em indenizar àqueles que, por terem lutado para que a liberdade e a democracia prevalecessem em nosso país"
99% lutava para implementar uma ditadura à moda cubana no Brasil. Caso vencessem, provavelmente não estaríamos teclando aqui, visto a falata de libredade na ilha-prisão.
"E quanto àqueles que foram arrancados do seio de suas famílias por nossos antepassados, para os servirem de forma tão vil e cruel?"
É claro que a escravidão foi terrível. Mas quem "empacotava" os escravos e os deixava "prontos" para serem levados pelos navios negreiros eram os próprios africanos, ou seja, era negro escravizando negro e vendendo para o branco europeu.
Não devemos esquecer que, apesar de pouco divulgado, vários negros possuíam escravos no Brasil.
Muita coisa não é falada pois isso estraga o "estereótipo" do negro escavizado pelo branco.
Também foi pelo branco, mas não SOMENTE pelo branco.
Ass. Carlos.
Com certeza, Carlos, porém, nada invalidará o argumento de que a sordidez das atitudes assistencialistas - migalhas, como bem disse a Célia - dos governos, não chega aos pés da indenização que as vítimas da escravidão deveriam receber. O que coloco aqui é: se as vítimas da ditadura têm direito à indenização, o que se dirá, então, das vítimas da escravidão?
Todo mundo já sabe que a elite republicana, a mesma que deu um golpe na monarquia brasileira forjando a intenção do povo brasileiro a favor da República, a mesma que elegeu Erando Collor De Melo, a mesma que forjou pesquisas apontando Moreira Franco como vencedor sobre Leonel Brizola na eleições do Governo do Rio de Janeiro de 1982, a mesma que esteve sempre ao lado da DITADURA MILITAR matando jovens inocentes em busca de uma liderança capitalista e televisiva, a mesma que apoiou a escravidão dos escravos e sempre será a mesma que tenta editar não só seus Jornais televisivos, impressos e rádios, mais também nossa cabeças, nossa Opinião.
Querem que nós seguimos o Twitter dos covardes do poder.
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